Artigo
Por Rosimar Silva
O segundo semestre de 2008 está sendo um período importante para o Gir brasileiro. Grandes leilões com animais de qualidade à venda alcançando excelentes médias, nunca antes conquistadas. Mais importante do que as cifras alcançadas, são os perfis dos novos investidores na seleção da raça.
Neloristas
Uma coisa que poucos acreditavam está acontecendo: uma grande quantidade de criadores (alguns ex) de nelore está optando pela raça Gir como opção de diversificação da atividade pecuária. Não se acreditava nesse tipo de criador porque, apesar de ser zebu, Gir e Nelore têm focos opostos. O nelore visa carne e o Gir visa leite. Só que pecuarista visa ganhar dinheiro. O nelorista aprendeu a ganhar dinheiro com o nelore, a viver o mundo glamouroso do auge da raça e agora o Gir está trilhando esse mesmo caminho.
O sucesso do Gir Leiteiro, principalmente, despertou o interesse de outros pecuaristas pela raça. O pecuarista especializado em produzir genética de ponto não se importa se o destino final do seu trabalho servirá para produzir carne, ou leite. O crescimento da raça Gir superou “pequenas” divergências de neloristas e giristas e agora estão no mesmo barco a procura de ampliar esse sucesso em busca do “el dourado”.
A participação de pecuaristas de outras raças na seleção de Gir gera todo tipo de especulação, todo tipo de avaliação e sentimentos. Alguns aprovam, outros torcem o nariz. Alguns consideram esse novo momento da raça como um sinal do crescimento do gir e outros já acham que será uma banalização da raça em busca simplesmente do dinheiro em detrimento da seleção, dos padrões da raça. Ou seja, agora é a vez dos otimistas e pessimistas.
Visão pessimista
Os pessimistas usam o argumento de que esses novos e mega investidores não se preocupam com a raça e seus fundamentos, “querem apenas usurpar dela os ganhos momentâneos que podem colher”. Avaliam que a chegado desses investidores distorcem a ”verdadeira” seleção, forçando um modelo que baseia simplesmente numa visão mercantilista, de retorno rápido, de sucesso momentâneo, de atender indiscriminadamente o mercado consumidor. Isso, avaliam, forçará a produção de animais ainda mais consangüíneos, distante da realidade dos currais, artificiais e super valorizados.
Argumentam que isso já aconteceu com outras raças, as quais foram extremamente exploradas para atender o mercado, como foi o “gigantismo” do nelore, a corrida desenfreada para colocar peso na raça a qualquer custo, sem se preocupar com o criador la na ponta que precisa de um animal que ande, que siga a vacada nas envernadas tropicais do centro-oeste e do norte do Brasil, onde é quente e úmido.
Garantem que a agora chegou à vez da raça Gir sofrer com a especulação. Agora o poder do dinheiro irá “tentar” destruir a raça Gir. Essa busca desenfreada pelo Gir leiteiro, pela vaca super produtiva “será um tiro no pé”. Sustentam que isso irá tirar da raça o seu principal trunfo: a rusticidade. Vão – garantem - fabricar uma vaca artificial, “holandezada”, acostumada às comidas seletivas, às rações de alta performance, estabuladas, que nunca provará uma moita de capim brachiária, nunca beberá água numa aguada natural e nem nunca deitará na estrada às 11 horas da manhã sob o sol escaldante para ruminar a comida que ela mesma buscou.
Por fim, será um animal de vitrine, de catálogos envernizados, de televisão e currais de cercas pintadas com tinta a óleo. Um animal fruto da fantasia do mercado, do circo milionário dos leilões e exposições, distante da dura realidade dos infindáveis pequenos e médios produtores de leite espalhados pelo Brasil.
Visão Otimista
Por outro lado, a visão otimista de alguns criadores bate de frente com a visão pessimista. Os entusiasmados com a “explosão” do Gir querem recuperar o tempo perdido. Inúmeras décadas no isolamento, vivendo apenas da crença de que um dia o Gir seria a raça leiteira do mundo tropical e que esse dia está por vir.
Acreditam que o fato de grandes investidores entrarem na raça com o objetivo exclusivo de ganhar dinheiro não é de todo ruim. Isso alavancará o mercado, aumentará a competitividade, forçará a seleção por animais em qualidade e quantidade, formará mais mão-de-obra especializada; aumentará a visibilidade da raça, tornando-a cada vez mais conhecida do grande público; contribuirá com a superação de alguns preconceitos sobre a raça, como a de que o Gir é uma raça antiga, um gado bravo, vaca de peito grosso, de tirado dura, investideira e que da a luz a uma cria “mole”.
Acreditam também que esse glamour todo não ficará restrito apenas entre os grandes criadores e investidores, mas que sobrará um resíduo dessa popularidade para todos os criadores, ou seja, todos vão ganhar.
Os otimistas acham que a pressão de seleção para leite não sucumbirá a raça, mas ampliará os número de animais melhoradores que também estarão à disposição do grande Público selecionador de Gir, que saberá usufruir desse processo melhorando o gado dentro da realidade brasileira.
Endentem que existirá a seleção somente para especulação, um processo artificial, produzindo super-vacas, modelos de produção da raça, mas que, no fundo, necessárias para a promoção e divulgação da atividade.
Mercado
A voracidade do mercado é implacável. O mercado quer Gir. Quer Gir leiteiro de alta lactação. A procura é por grife, por marca, por pedigree famoso. Por resultados.
A busca pela sobrevivência arrastará todos para a vala comum do mercado. Nesse ambiente hostil aos desavisados, existe pouco ar para respirar, mesmo porque há aqueles que têm pulmões mais exigentes e o tempo, somente o tempo dirá se tudo isso irá impactar, de fato, nos resultados futuros de seleção da tão almejada raça leiteira do Brasil.
Rosimar Silva é jornalista
e criador de Gir
na Fazenda Santa Clara,
em Bela Vista de Goiás.
Veja: O investidor - 2º ATO
Gostaria de contar com o comentário de todos os leitores de Girbrasil sobre este novo momento do gir nacional.
3 comentários:
Prezado Rosimar, sou da turma dos otimistas! Sabe porque? veja a reportagem das irmãs (Dalila e Indhyra)! A Fazenda calciolândia democratizou o Gir leiteiro, não só ela, como também Fazenda Brasilia, Silvânia, Terra Vermelha FB, Terras de Kubera e entre outras. O sonho dos Giristas é ver novamente o gado Gir Leiteiro assumindo o seu verdadeiro espaço na pecuária leiteira no Brasil. Obrigado.
Atenciosamente,
Marcelo Rezende Queiroz
Sítio Vale Azul Governador Valadares MG
Olá Rosimar.
Já tinha percebido que estes megaleilões estavam te incomodando.
A base da pirâmide que é a maioria, precisa destes poucos que estão no topo, para ter acesso a uma genética melhoradora. Agora aqueles que acreditam em fundamentos, tipo e em raça é so continuar com seus objetivos que seu momento vai chegar, porque num futuro próximo, vai faltar as caracteristicas basicas desta raça.
VISÃO PESSIMISTA.
Não tenho essa visão, pois seria um contraponto pensar em prejuizos com o mercado aquecido, vendas em alta, novos criadores, pode até ser que teremos retrocesso em sistemas seletivos, pois quem não tiver e não fizer a mercadoria que o mercado procura(animais leiteiros, soma-se ai, tradição e trabalho na produção de leite), esses selecionadores sim vai tá ferrados e fora do mercado, que também não acredito seja momentánio e expeculativo, isso até pelo numero reduzido de individuos com as caracteristicas que o mercado do GIR LEITEIRO, esta procurándo e pagando altas somas. O Universo e a quantidade de gado nelore está a muitos milhões de cabeça do Gir.
Quanto ao acesso dos pequenos a esse mundo, concordo com o nobre editor, esses não terão acento ás mesas dos leilões, mais vão continuar buscando e achando rumo nas suas duras labutas do dia a dia, mais já estamos acostumados a essa realidade e não vamos baixar a canga.
VISSÃO OTIMISTA.
Capitalismo puro, dinheiro, gera dinheiro, foi sempre assim que o mercado baliza os investimentos.
Então vendas em alta e falta de mercadoria de qualidade para o mercado comprador, nós abrigam a trabalhar mais e mais para o GIR LEITEIRO, que teve inicio a mais de 50 anos, e a ladainha sempre foi a mesma, quem está dentro e conseguindo vender seu leite, chora um pouquinho, mais ganha algum. Quem está fora acha um monte de defeitos, desde o aspecto racial até a roga praga para o mercado mudar, quando seria bem mais facil e rentavel ser rabo de baleia em vez de cabeça de sardinha.
Então, vamos colher o que plantamos(uns vão colher mais, outros nem tanto), mais assim e o capitalismo e se tiver que mudar de rumo, uai, mudamos, afinal cabeças são redondas, exatamente para as ideias serem retomadas do ponto inicial.
APOSTO MINHAS FICHAS QUE O GIR LEITEIRO E A BOLA DA VEZ, ATÉ QUANDO, AI SÓ O TEMPO E QUE VAI DIZER.
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