24 de mar. de 2009

Artigo


Gir leiteiro do Futuro:
adaptação à ordenha mecânica


Nos países desenvolvidos, praticamente 100 % do rebanho leiteiro é ordenhado com o uso de sistemas mecânicos. Em nosso país, até bem pouco tempo atrás, era raro encontrar nas regiões sudeste e centro-oeste uma fazenda leiteira que usasse esse tipo de equipamento. Ordenha mecânica sempre foi mais difundida nos estados do sul, em rebanhos Taurinos.

Esse quadro tem se alterado substancialmente nos últimos anos, principalmente devido a alguns fatores conjunturais e estruturais, a saber:
1) O fenômeno do êxodo rural, com o conseqüente inchamento dos centros urbanos, tem reduzido substancialmente a parcela da população que vive no campo.
2) As novas gerações tem contato com tecnologias que hoje estão mais acessíveis a todos as pessoas (ex. telefone celular, computadores, internet).
3) A educação de nível fundamental tem se difundido entre os jovens, com abrangência quase total.

4) O salário-mínimo tem se elevado acima da inflação por vários anos consecutivos. Isso tem encarecido a rubrica de custo mão-de-obra.

5) A Instrução Normativa nº 51 do Ministério da Agricultura estabeleceu de critérios mínimos de qualidade, que devem ser respeitados pelos produtores de leite.

6) Os laticínios, cooperativas e demais empresas de captação de leite têm estabelecido políticas de remuneração que buscam valorizar a quantidade (ganho de escala) e a qualidade (higiene e teor nutricional) do leite.

Antes se falava que um empregado era capaz de retirar, através de ordenha manual, 250 litros de leite por dia. Esse parâmetro tornou-se obsoleto. A empresa leiteira deve hoje buscar índices de 500 a 1000 litros diários por empregado, o que apenas é possível através da ordenha mecânica.

Com a crescente urbanização verificada no Brasil, aumentou a pecha de que a atividade leiteira é desgastante e repetitiva. O retireiro que acorda 4 horas da manhã para o trabalho de ordenha, todos os dias da semana, chova ou faça sol, é uma imagem rejeitada pelos empregados atuais. Por outro lado, o uso de equipamentos mecânicos na ordenha tem atraído para a atividade leiteira pessoas de outros ramos profissionais, tais como tratoristas, pedreiros, motoristas, etc. Também tem aumentado a participação feminina no trabalho, o que era impensável a pouco tempo atrás em vastas áreas do sudeste e centro-oeste brasileiro, apesar de ser comum no sul do país.

Apesar de ser plenamente possível produzir leite de qualidade através da ordenha manual, com o uso de sistemas mecânicos os resultados de qualidade se tornam mais consistentes e previsíveis, equiparando-se aos padrões adotados em países desenvolvidos da Zona do Euro e Estados Unidos.

Num ambiente de mão-de-obra escassa e mais cara, somado as pressões por aumento do volume e incremento da qualidade do leite, torna-se imperativo o uso de sistemas mecânicos para ordenha como forma de sobrevivência da empresa produtora de leite.

As raças leiteiras devem estar inseridas nessa nova realidade. As raças Taurinas, pela sua própria origem, se adaptam muito bem ao sistema mecânico. As raças leiteiras tropicais, Girolando e Gir Leiteiro, devem ser selecionadas para superar esse desafio.

Trabalho pioneiro nesse sentido é realizado pela Fazenda Experimental Getúlio Vargas, da Epamig, na cidade de Uberaba. Lá implantou-se um sistema de ordenha mecânica para animais Gir Leiteiro. Foram desenvolvidos também experimentos de manejo voltados à adaptação do gado a essa nova realidade.
Essa é também a nossa proposta. As linhagens de Gir Leiteiro foram formadas a partir do gado Gir nacional, através da superação de desafios e muita persistência de criadores particulares e abnegados pesquisadores. De forma semelhante, buscamos evoluir e refinar a seleção através da identificação e formação de linhagens adaptadas à ordenha mecânica dentro da raça Gir Leiteiro.

Enfatizamos algumas características de conformação e manejo que auxiliam no atingimento dos objetivos propostos:
1) Facilidade de apojar (descer o leite)
2) Velocidade de extração do leite
3) Úberes não muito profundos, com partes anteriores e posteriores avantajadas
4) Tetas bem colocadas de tamanho médio
5) Docilidade no trato
6) Lactações mais longas
7) Resistência à mastite

Acreditamos estar contribuindo para a expansão e crescimento da raça, através da sua adaptação à nova realidade. Este deve ser o Gir Leiteiro do futuro !!!


José Luiz Costa
Fazenda Gramado
Corumbá de Goiás
sanad766@terra.com.br

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