2 de dez. de 2008

O Investidor – 4º ATO


Quando estourou a crise financeira nos Estados Unidos e as bolsas de valores despencaram, escrevi um artigo indagando se a crise afetaria ou não o mercado de Gir leiteiro no país. Considerava que os grandes investidores na raça eram também investidores em outros seguimentos, por isso eram pessoas cautelosas, que estudavam a conjuntura e não iriam investir numa mercadoria que é de retorno a médio e longo prazo.


Dei um tempo para avaliar se a minha tese estava certa ou errada. O resultado do grande leilão do hotel Copacabana Palace seria o melhor indicador. Antes mesmo dos Gir das Américas, os leilões da Calciolândia, da Fazenda Brasília e da Estância Silvânia foram bons. Com altas médias, com muitas vendas para novos criadores e investidores.


Quando chegamos no “Capa” o mercado já estava aquecido. A estratégia dos “Piccianes” no Rio de Janeiro foi infalível. Os novos investidores não estavam nem aí para a crise. Aliás, para os compradores de genética de ponto não existe crise. O dinheiro do mercado de gado de elite não se “afeta” com as crises no mercado financeiro. Coisa impressionante.


Os criadores, as empresas de leilão e de assessoria pecuária não param de marcar leilões. Tem leilão quase todos os dias. Uma super oferta de gado Gir. E o mercado está absorvendo bem toda essa oferta.


Existe uma euforia com a “explosão” do mercado de Gir Leiteiro. As bolsas estão em crise, os governos estão em crise, o mercado do leite no Brasil está em crise, os produtores de leite estão em crise, mas o Gir leiteiro não está em crise. Era de se esperar que a procura por Gir leiteiro diminuísse com a crise do mercado de leite, afinal de contas o produto final do processo de seleção de Gir é o leite. Se esse produto vai mal, a matriz produtora desse produto também vai mal. Errado.


A lógica não é esse. Aliás, não tem lógica nenhuma. Se os grandes empresários, as corporações e organizações estão perdendo dinheiro nos mercados de ações, era de se esperar que não investissem tanto dinheiro em gado.


Não sei deveríamos tentar entender esse mercado. Mas se tem crise, por que os investidores se arriscam em comprar, por exemplo, prenhezes caríssimas, num verdadeiro contrato de risco? Mais, como explicar alguém comprar um produto que está diretamente ligado a uma cadeia produtiva em crise, como é o caso do leite?


Diante de tudo isso, o Gir navega em mar de brigadeiro, sereno, elegante, conquistador. Acho que o Leilão Gir das Américas, contrariando a própria enquête do blog, em que os visitantes do blog consideram que o resultado do leilão não será bom para o Gir, devido aos altos preços praticados durante o evento, foi um acontecimento importante para a raça gir no Brasil.


Alguns e-mails de leitores do blog dão conta que o Gir das Américas foi bom só para quem vendeu naquele leilão e não será bom para o conjunto dos criadores brasileiros, pois foram praticados preços “irreais”.


Acredito que foi bom e está sendo bom. Esse leilão balançou o mercado. Colocou o Gir em outro patamar. Sacudiu a poeira dos pessimistas que nunca acreditaram que a raça poderia passar por um processo de valorização tão alta, ser coisa de milionário, haja vista que tem muita gente, muita mesmo, que acha que “leite” é coisa para pobre.


Agora, como explicar: o Gir chegou aos grandes e ricos salões, nas rodas milionárias e do poder político do Brasil. Temos até criador “global”, coisa que nunca tivemos, apenas o nelore e o Brahma exibia seus “globais”. Jorge Picciane, promotor do leilão Gir das Américas, é deputado Estadual e presidente da Assembléia legislativa do Estado do Rio de Janeiro, homem de muito prestígio, muito rico, muito influente, que tem um filho deputado federal.


Aí o pessimista retruca: “mas são apenas investidores, de olho no dinheiro, neloristas que estão percebendo o fracasso do nelore”. Aí eu digo: “que venham os neloristas”. No dia em que eles se forem, ficaremos, só que bem melhores. Como acredito no poder de sedução e conquista da raça, acho que muitos desses pecuaristas que estão entrando no Gir jamais deixarão de criar Gir. Pode esperar para ver.


Acho que esse não é o grande problema do Gir. Nossas dificuldades serão resolvidas por selecionadores, por criadores abnegados, por técnicos comprometidos, por pesquisadores engajados com o progresso do Brasil.


Precisamos pesquisar mais, aumentar o rebanho de qualidade, diminuir o intervalo entre partos, reduzir a idade ao primeiro parto, ampliar a persistência de lactação, eliminar a famigerada otite, melhorar úberes, investir em famílias e linhagens verdadeiramente dóceis e por aí afora.


Enfim, garantir animais de qualidade ao pequeno e médio criador para produção de leite. Isso, sim, tem uma longa caminhada para ser percorrida. Isso não é projeto de investidor. Não é projeto de quem quer apenas ganhar dinheiro. Mas para isso será preciso de muito dinheiro.


Em Goiás, lugar de pequenos e médios criadores de Gir, trava-se uma luta titânica para se manter um teste de melhoramento genético com prioridade para linhagens de Gir que ainda não foram testadas. Os pequenos e médios criadores fazem um sacrifício enorme para manterem seus animais no programa e agora a Girgoiás, juntamente com a Embrapa, resolveu ampliar a pesquisa incorporando o Moet, múltipla ovulação e transferência de embriões, ao teste.


Os touros da 4ª bateria do programa de melhoramento genético de Gir do Estado de Goiás também serão testados no Moet. Suas filhas, irmãs e meias-irmãs serão avaliadas pelos pesquisadores Rui Verneque, da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora; Rodolfo Rumpf, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia – Cenargem e Benedito Trovo, da Embrapa Cerrados.


Nós de Goiás, faremos incursões no Governo federal e em outros possíveis investidores para conseguir parceiros para nossas pesquisas. Essa, enfim, é a luta do Gir brasileiro, que já esteve em momentos bem piores que os atuais.


Rosimar Silva

Editor do Blog Girbrasil

Vice-presidente da Associação Goiana dos Criadores de Gir



Leia também:

O Investidor - 1º ATO

O Investidor - 2º ATO

O Investidor – 3º ATO




Um comentário:

Anônimo disse...

Prezado Rosimar,

Além de investir no melhoramento genético, como você mesmo disse:"Precisamos pesquisar mais, aumentar o rebanho de qualidade, diminuir o intervalo entre partos, reduzir a idade ao primeiro parto, ampliar a persistência de lactação, eliminar a famigerada otite, melhorar úberes, investir em famílias e linhagens verdadeiramente dóceis e por aí afora". Não podemos de esquecer de investir também em nossos funcionários, que é um dos tripês ( Genética, Manejo e Alimentação) do sucesso da seleção do Gir Leiteiro, fora os bons relacionamentos que a raça Gir Leiteira nos proporciona. Nós do Síto Vale Azul, Gov. Valadares MG, levaremos nosso funcionário para Uberaba, no Parque Fernando Costa para realização de Curso de Doma e Casqueamento no período de 14 a 21 de dezembro de 2008.
Grande Abraço,

Marcelo Rezende Queiroz
Sítio Vale Azul Gov. Valadares MG.