22 de dez. de 2009

"Pedigree não significa identidade de herança"



Caro Rosimar,

Creio que no Email que te enviei nessa sexta feira estava eu profetizando alguma coisa. Tinha comentado que as discussões do Blog Girbrasil tinham terminado e que esse estava se atendo somente aos inúmeros Leilões e isso já estava se tornando cansativo, haja vista a quantidade insuportável de remates efetuados quase que diariamente, sempre com os mesmo comentários curiosos, senão estapafúrdios, com muito blá bá blás (ALGUNS ÓTIMOS FORAM PUBLICADOS NO SEU BLOG).

Muitos eram de dar risada, tal como essa frase que escutei de um animador da festa em um dos inúmeros Leilões “EU CRIARIA ESSA VACA NO QUINTAL DE CASA, VEJA A MANSIDÃO DELA ...” e rebatido imediatamente pelo leiloeiro –“EU JÁ CRIARIA NO MEU QUARTO”. Imagina só: dormir com uma vaca! Só que nenhum deles queria nada disso (tanto que não compravam, pois estavam apenas exercendo suas atividades de vendedores) - queriam apenas elevar mais o preço e manter a ciranda financeira que os sustentam, CUMPRINDO COM PROFISSIONALISMO o papel para o que foram contratados.

E isso estava dando Ibope, porque muitos amigos criadores de Gir Leiteiro assistiam os Remates televisionados para ver se teria alguma nova novidade nas interpelações do agenciador e qual o novo ‘jargão’ que surgiria. O circo esteve armado durante todo o ano pela ‘turma dos organizadores com pré-acordos dos convidados’ e todos no picadeiro aplaudindo os lances em cima de lances.

Em qualquer leilão do Gir Leiteiro todos os animais tinham seus predicados como os melhores da raça, mesmo antes de nascerem (prenhes de embriões com base no pedigree), como se fosse matemática e não genética quantitativa em que não se pode prever o que ocorre com a segregação independente de genes.

Só para explicar: Identidade de pedigree não significa identidade de herança. Estima-se o mérito zootécnico dos animais por seleção efetuada por avaliações em diversas fases:
I) Numa primeira fase pela genealogia (o pedigree indica o que o animal pode ser);

II) Numa segunda fase pelo próprio desempenho (o fenótipo mostra o que o animal parece ser),

III) Em definitivo, pela produção de sua descendência (a progênie prova o que ele realmente é).

Assim tudo fica na conjectura do que poderá ser um embrião que ainda vai nascer e da novilha que terá de esperar uns 4 anos para que possam parir e chegar na fase II (se parir – porque hoje tudo é FIV e TE), se não morrer antes .... e se for macho esperar 8 anos para chegar na fase III (PROVADO OU NÃO NO TESTE DE PROGÊNIE). Enfim, Um Tiro no Escuro que pode sair na culatra.

OBS.: as consequências do grande número de genes que afetam as características é obtido por fórmulas gerais. O número de diferentes tipos de gametas e genótipos possíveis com n pares de genes é de 10 elevado à 0,301n e 10 elevado à 0,477n, respectivamente. As possibilidades para diferenças hereditárias nessas condições são enormes e podem ser avaliadas comparando-se com o número de animais de cada espécie existente no mundo. Assim, se o número de pares de diferentes genes heterozigotos (alelo diferente) em cada espécie for igual a 40 (em bovinos é de 30 a 50 mil genes), as diferentes combinações hereditárias possíveis são de milhões de bilhões mais numerosas que nenhuma calculadora é capaz de executar. Dessa forma a frequência dos genes nunca é a mesma em nenhum descendente, mesmo que os pais sejam os mesmos (nenhum filho é igual ao outro), à exceção de gêmeos idênticos.

Bom (com um “o” e não com dois “os”) que todos os VERDADEIROS SELECIONADORES ‘GANHARAM O SEU’, inclusive seu Blog, que foi utilizado para divulgação dos eventos – ESSA É SUA FUNÇÃO DE ANUNCIADOR. Cabe agora aos ‘investidores do mercado financeiro’ conseguir manter o boom (adoram os dois “os”), o qual parece que vai se transformar em ‘bumm’ rapidamente.

Gostaria que todos lessem novamente o artigo publicado em Girbrasil “Para quem é o Gir Leiteiro? Que caminhos são esses? Uma Alerta”, e, também, publicado posteriormente nas Revista DBO -Mundo do Leite e Balde Branco. Alardeava eu a preocupação com tudo isso que está começando a ocorrer.

Creio que em 2010 o mercado da pecuária de leite vai ditar o verdadeiro caminho do Gir - atender aos produtores de leite, dentro da realidade de quem vive disso e continuar podendo ser material acessível aos criadores da América Latina e outros países (assustados com tudo isso, onde se procura cada vez mais ‘PRODUZIR LACTAÇÃO’ em vez de ‘PRODUZIR LEITE’, como se recorde fosse o ideal e não o leite economicamente viável), moralizando a atividade, pois certamente os preços voltarão à normalidade (apesar dos leiloeiros e mascates continuarem a insinuar que os valores ainda vão ‘aquecer mais’ e depois de receberem suas comissões não tem nenhuma responsabilidade pelo pagamento das dívidas contraídas nas 12, 20 ou 30 parcelas ainda a vencer, conforme consta do edital – COMPRA QUEM QUER E QUE ACHA QUE PODERÁ PAGAR).

Acredito no esgotamento desses recursos ‘daqueles’ que nunca souberam o que é a verdadeira atividade leiteira e adentraram nela. Irão de qualquer forma tentar repor o que gastaram, porque a única coisa que querem e sabem fazer é vislumbrar lucros rápidos. TODAVIA PARA ISSO TERÃO QUE CONSEGUIR MAIS ARTISTAS, APRESENTADORES, CANTORES E POLÍTICOS, ALÉM DE PROCURAR OUTROS EMPRESÁRIOS PARA MANTER O ‘FOGO ACESO’ dessa pirâmide de gananciosos que sempre querem o ganho fácil.

R$ 1 milhão por uma vaca não representa nada para esses que possuem ‘fortunas acumuladas’ e que os animadores fazem folia como se o produtor de leite pudesse entender como se pode comemorar algo que foge à lógica de quem sobrevive da venda de leite a R$ 0,60 o litro com custos que representam até 80% desse valor. E TEM DIRIGENTE DE ENTIDADE QUE AINDA ACHA RUIM COLOCAR ISSO NA MÍDIA, porque diz que o gado de elite é para a elite e que essa genética tem de ficar é para o topo da pirâmide, desconhecendo totalmente o ciclo de repasse para os outros extratos até atingir a base.

Coitado dos usuários da base que precisam ter acesso a isso, como tinham antigamente, e jamais poderão adquirir animais a preço compatíveis e justos, porque quem pagou caro vai querer vender caro e somente aqueles que podem poderão....

Essas pessoas nunca serão como os pioneiros que durante décadas edificaram e promoveram o Gir Leiteiro, juntamente com outros CRIADORES que transformaram o Gir em um gado especializado e adaptado para produção de leite nos trópicos (no tempo que ainda conseguiram formar seus rebanhos). Ótimo ver Girbrasil com assuntos outros e que novas idéias e questionamentos surjam, como os comentários do Caio Sandro Araújo e Sej Johnsson, nessa mesma linha de raciocínio.

Que Girbrasil valorize cada dia mais a divulgação do Gir Leiteiro de capim também, para que novos CRIADORES acreditem nessa raça especializada mantida no Brasil como material a ser expandido para quem dela necessite para atender a tendência de mercados para produtos ambientalmente adequados e como estratégia capaz de contribuir como fator que pode compor elementos de marketing ambiental de conceito de mecanismo de desenvolvimento limpo na busca de alternativas para redução dos problemas referentes ao desenvolvimento sustentável.

Falando no mercado internacional, envio dois emails de amigos do México e Costa Rica (Manuel Suares e Edgar Sanchez), os quais você conheceu no Congresso Internacional de gir, em Palenque, No México. Esses emails (gostaria que publicasse também) mostram que com os altos preços do Gir Leiteiro brasileiro, nossos patrícios estão resolvendo a questão de multiplicar o Gir com seus próprios animais, a exemplo da Colômbia (hoje com um rebanho muito próximo do nosso em quantidade e qualidade), dependentes somente do sêmen brasileiro de touros provados pelo TP e alguns procurando novos criadores e linhagens leiteiras de rebanhos Gir com produções que se repetirão em seus países, sem a fobia de terem animais com lactações dependentes do uso de concentrados.




Ivan Luz Ledic
Médico Veterinário, MSc. em Melhoramento Animal, DSc. em Produção Animal
ex-Diretor Técnico da ABCGIL, Pesquisador aposentado da Embrapa Gado de Leite e Diretor Técnico da Assogir, em Uberaba (MG)



Prezado Ivan,

Hola mi caro amigo, hoy despues de una semana de mucho recorrido y camaderia salieron de vuelta a Mexico nuestros amigos.

Fue un exito; primero, logramos que Jorge Jr fuera aceptado en la universidad Earth. Jorge padre logro aumentar la produccion de las vacas en mas de un 30% solamente haciendo unos pequenos cambios en el manejo. Todos nos quedamos con la boca abierta. Hasta el Dr. Eduardo Montealegre que decia que solo con mejor genetica lo lograriamos.

Manuel encantado con las receptoras. Para Enero quiere mandar unas novillas. Fuimos a Sacramento, Lapas, Buena Vista, La Roca, Ballena. Tambien visitamos una finca de bufalas y otra de Simmental en ordena.

TODO ESTO TE LO DEBO A TI, EL GRAN EMBAJADOR QUE UNE A LA FAMILIA GANADERA.


Un fuerte abrazo,
Edgar








Isabel Flores, Rosimar Silva e Edgar Sanches Aquilar. Edgar é criador de Gir na Fazenda La Roca, na Costa Rica. Esta foto foi durante o Congresso Internacional de Gir na cidade de Palenque, em Chiapas, no México, em agosto de 2009.









Estimado Dr. Ivan:

El viaje con Edgar fue excelente, nos dedico toda una semana, fue un bonito viaje y disfrute mucho de Costa Rica.

Mucho le agradezco que usted me presentara con Don Edgar, sin duda es una persona extraordinaria, con una humildad y simpatia especial, como decimos aca, "UN PERSONAJE".

En los proximos dias estare resolviendo los asuntos de la Exportación para enviarle las primeras 6 hembras gir leiteiro y empezar una alianza para la multiplicación de este material para Costa Rica y CentroAmerica.

Esto no se hubiera logrado sin la participación DEL EMBAJADOR DEL GIR IVAN LUZ LEDIC. Hoy mas que nunca me queda claro que el Gir hace amigos.

Le comento que Jorge Priego nos hizo el viaje muy ameno y creo podra ayudar mucho a Don Edgar a explotar al maximo su hato lechero.

Le mando un fuerte abrazo y mi agradecimiento por todas sus consideraciones para conmigo.

Su amigo.






Manuel Antonio Suárez Romero
Brasuca - Mexico

2 comentários:

Anônimo disse...

Dr Ivan,

Sábias palavras como sempre.
Não gosto de fazer manifestos públicos mas acho isso agora pertinente, em função de oferecer alguma tranquilidade.
Bem distante dos holofotes,há muitos selecionadores com foco no verdadeiro mercado da cadeia do leite, ofertando produtos de qualidade, por preços justos, e satisfatoriamente remuneradores.
Por selecionarem gado à pasto, ficam fora das pistas.
Por não darem hormônios às suas vacas, ficam fora das altas lactações e dos concursos leiteiros.
Suas forças estão na palavra de ordem: sustentabilidade.
Por estarem "com os pés no chão", não têm sofrido com inadimplências.
Assim vão persistindo nesse mercado, alguns há mais de 70 anos.
Seus lamentos são apenas de não conseguirem suprir a demanda.

Carlo Rossi
Coqueiral-MG

Estância do Gir disse...

Prezado Ivan,

Não tecer nenhum comentário sobre
a sua participação nos assuntos ora pertinentes, seria covardia da minha parte.Eu que o questionei em alguns assuntos em outras opurtunidades, nunca deixei de concordar com outos pontos de vista
de sua parte, em especial, quando
vc.escreveu um artigo:"Para quem serve o Gir leiteiro? Que caminhos são esses? Um Alerta."Tive a certeza,que vc. não agradou a uns, desagradou a outros, enfim,falou a linguagem da maioria.
Hoje, as pessoas estão se perguntando,porque os animais que
comprei não produz o que foi dito?
Onde foi que eu errei?Para escrever o vc. escreveu não basta ter coragem, é preciso ter autoridade.Hoje pagam pra ver.
Espero que vc. tenha o justo reconhecimento, e afinal, que discutamos o asunto sempre em
alto nível.

Um abraço

Euclides /Estância do Gir