23 de dez. de 2009

Das barrancas do São Francisco


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Caro Rosimar,


Antes de tudo, como criador de Gir, quero agradecer o espaço livre e democrático que você mantém em favor desta raça maravilhosa que é o Gir. Deixando de lado a retrograda discussão de “raça pura”, “padrão”, “leiteiro” etc. A discussão do momento é o “Caso Caixeta”.

Todos os nossos companheiros que manifestaram sobre o “caso” com propriedade deram sua contribuição em favor da raça.

Necessário destacar as palavras do Dr. Ivan Ledic e do senhor Onofre Ribeiro, o primeiro reputo um dos maiores pesquisadores da raça, leia-se pesquisador sério, o segundo além de criador o “Embaixador” da raça Gir no Brasil e no mundo. Hoje é vergonhosa a posição da ABCZ que empresta credibilidade duvidosa a controle leiteiros que há muito deixaram à casa dos 8.000 kg. leite.

Em certa ocasião recebi um e-mail de um companheiro solicitando sugestões para um concurso leiteiro que iria patrocinar. Respondi que com relação às regras deveria observar o que é prescrito no concurso leiteiro da ABCZ e que eu iria acrescentar uma única norma: todas as participantes serão submetidas a teste antidoping sendo desconsiderada a lactação do animal que for identificado qualquer substância química para potencializar a produção. O companheiro respondeu o meu e-mail em um tom até um pouco agressivo e no final acrescentou “você não quer que eu faça o concurso leiteiro”.

Creio que a base evolutiva do ser humano está no dom especial do “livre arbítrio” por isto respeito quem opta por “criar vaca no quintal” e “levar vaca para o quarto”. Eu optei por não participar desses torneios dos quais se tem notícias de vacas morrendo de véspera e que o “leite” resultado do concurso só serve para o banho da vitória do expositor ou para ser jogado no esgoto.

Não obstante continuo participando do controle oficial da ABCZ mesmo com minhas vacas dando no máximo 5.000 kg de leite (uma só). Porém a regime de pasto, cana com uréia e ração comercial, o que me deixa muito feliz. As vacas que comprei em leilão e de terceiros que compraram em leilão, nenhuma, absolutamente nenhuma repetiu a lactação oficial. Claro que eu não gasto R$ 2.000,00 (dois mil reais) por mês para minha vaca produzir 30, 40 e hoje até mais de 50 litros de “leite” em uma pesagem. Este é o valor que um criador me confidenciou está pagando para uma empresa especializada em produzir “altas lactações para torneio leiteiro”.

Aí vem o “Caso Caixeta”. Na verdade o Jorge Caixeta é vítima, vitima de uma “jogada de publicidade”, vítima da vaidade retratada pela Sabedoria de Salomão. Vítima que demonstrou honradez ao admitir que não tinha condições de pagar e devolver o que comprou. Oportunas as palavras do grande criador Onofre Ribeiro, todos nós estamos sujeitos a sucumbir, porém o importante é dá a volta por cima, o mundo é redondo e gira, desejo ao senhor Jorge e ao seu filho Lucas serenidade e disposição para recomeçar. De qualquer forma o “caso” serviu para iniciar um debate acerca dos remates em proporção jamais vista na raça Gir.

No remate televisivo temos em linhas gerais a participação de vários atores como bem retratado pelo Dr. Ledic, porém, o negócio é finalizado entre três pessoas, o vendedor, o comprador e a empresa leiloeira. Ora, um contrato para alcançar seus objetivos sociais, tem que ser justo e atender as expectativas de forma igualitária para todos os envolvidos. O vendedor dá o prazo, o comprador aceita o prazo e se compromete a pagar o preço aferido em hasta pública. E a empresa leiloeira? Recebe antecipadamente a sua comissão, não corre nenhum risco e leva uma vantagem desproporcional ao risco assumido pelo vendedor e comprador. Longe de ser plausível o argumento de que existem despesas assumidas pela leiloeira e esta deve receber antecipadamente. Despesa por despesa a do criador é muito maior da imobilização do capital em terra ao nascimento do animal e sua manutenção. Ou seja, para uma das partes envolvidas não é identificado qualquer risco no negócio.

Aqui se encontra o nó gótico que necessita ser enfrentado. Quem faz o cadastro é a leiloeira, logo ela tem que ser solidária com o pagamento do preço, ou no mínimo receber sua comissão ao longo do vencimento das parcelas. Pode a empresa leiloeira dizer isto eu não faço. Tudo bem, é um direito da empresa leiloeira não aceitar ser solidária ao pagamento das parcelas ou mesmo receber sua comissão ao longo do vencimento e liquidação das parcelas vincendas. Aí eu pergunto, pra quê temos associação de criadores? Será que as nossas associações não têm condições de organizar e realizar leilões. Aqui em Pirapora quando assumi a presidência do Sindicado dos Produtores Rurais tive problema semelhante, resolvido com a simples compra de um programa de computador que gerencia o leilão.

De lá para cá, não tem mais empresa leiloeira, somente é contratado o leiloeiro, visto que legalmente somente aquela pessoa credenciada como tal pode conduzir o remate e as pisteiras. Imagina Rosimar um leilão com a chancela do ABCGIL ou ASSOGIR, imagina a credibilidade visto que a associação no caso tem que garantir a oferta. Se usou hormônio, super alimentação o que for tem que constar na ficha do animal, compra quem quer, porém tem que ter transparência e credibilidade, talvez se isto acontecesse não será mais necessário criar “vaca no quintal” ou “levar vaca para o quarto”. Fica com Deus. Ainda está me devendo uma visita.



José Patrício da Silveira Neto

Fazenda Santa Isabel

Pirapora (MG)

4 comentários:

caio disse...

Sou "praceiro" na suas palavras, principalmente no tocante as firmas leiloeiras, acessorias etc e tal, daqui para frente.

Vendemos sem as mesmas, elas sem a gente não, temos que ter o apoio deles para concluir os nossos negocios.

Estância do Gir disse...

Prezado José Patrício,

Quando se discute os aspectos raciais do Gir, é sob o fundamento
do regulamento da ABCZ.Ninguem inventa raça, e se alguem não concorda, o Foro competente é a ABCZ e MAPA.Da mesma forma que não se define o que é uma raça em papo
de botequim.
Com relação ao ocorrido com a família Caixeta, quem milita no mundo dos negócios, sabe que é um
dos milhares de casos que ocorre
no mundo todos os anos.Enquanto uns
iniciam suas atividades, outros desistem,quebram,ou simplesmente
são liquidados judicialmente.
Com relação à inadimplência,toda atividade econômica contabiza em seus balanços, prejuízos por falta de pagamentos,seja instituições financeiras,industria, comercio e
até a receita federal.
Com relação a quem cabe a maior parte de responsabilidade sobre a
venda do produto, eu não tenho a
menor dúvida que é dos vendedores.
Afinal,contrato a Leiloeira que quero,imponho o nome do leiloeiro,
defino a margem mínima dos preços de cada lote,exijo atualização dos
Cadastros e por fim é anunciado que a venda sòmente será efetivada
mediante a aprovação do vendedor.
O mesmo ocorre na escolha do Canal de TV, dos Assessores e até do Buffet.
Eu por exemplo, pediria ao leiloeiro a cada batida do martelo
não dizer Excelente Compra,no máximo Boa Sorte ao comprador,afinal, ele pode ter
acabado de adquirir animal inferior.
Aliás, porque nunca se fala Excelente Venda.
Portanto, quem tem que readadptar é o vendedor,porque é ele quem cria,quem contrata,quem vende e
quem vai receber.

Que todos opinem

Euclides/Estância do Gir

Lauro Belchior disse...

Parabéns ao Sr José Patricio da Silveira Neto e aos Srs Caio e Dr Ivam. Faço dos comentários deles as minhas palavras.
Lauro Belchior Fazenda Arapuca Velha Bela Vista de Goiás

Ivan Luz Ledic disse...

Que coisa maravilhosa isso que está acontecendo. Nesses momentos verificamos que muitas pessoas têm o mesmo ponto de vista e não compactuam com a 'turma de agenciadores’ que promovem e contratam leiloeiras e canais de TV para patrocinar o Gir Leiteiro holandesado que produz leite somente com tratadores e tratamento sofisticados e de alto custo. Precisamos urgentemente fazer um movimento de criadores de Gir que produzem leite dentro nos moldes de um herbívoro ruminante e não como um onívoro. Esses criadores não produzem lactações, mas sim leite para ser comercializado e animais para serem utilizados pelos produtores, com rusticidade e com potencial de 10kg/dia (20kg/dia se muito bem tratada para uma lactaçõ de 6 a 7 mil kg). Os Leilões estão servindo à elite. Se trocarmos de lugar só a primeira letra, muda de elite para leite e essa é nossa responsabilidade para que o Gir continue sendo a raça ideal para servir ao mundo tropical. Obrigado pelas palavras ditas sobre minha pessoa. Isso me envaidece muito. Leiam meu comentário ao Carlo Rossi.