19 de fev. de 2010

"Pés no chão"

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Caros Rosimar e José Mário Abdo,

Considerando-me ainda um iniciante, pois estou criando gir há pouco mais de tres anos, mas já tomando ações que seguramente me garantirão em um futuro bem próximo figurar entre bons criadores de gir (aquisição de prenhezes e animais de ponta, início de controle leiteiro oficial, total escrituração zootécnica e manejo sanitário adequado), permito-me comentar a excelente entrevista publicada no GirBrasil.

Qualquer atividade econômica deve ser pautada pelo otimismo, porém um otimismo "com os pés no chão". Nós criadores, às vezes somos tomados por uma tendência que nos distancia da razão e nos faz agir por emoção. Talvez uma parte do bom desempenho comercial do gir leiteiro no ano passado possa ter sido conduzida por atitudes não muito racionais, contudo, esta "irracionalidade", que eu prefiro chamar de "risco" é parte importante de qualquer crescimento.

Analisando os números do ano passado, assusta-se com a quantidade de leilões de gado gir e a quantidade de doses de sêmen comercializadas em relação às outras raças. Existe algo de "forjado" nisto? Não acredito!Existe sim um "boom" da raça. E existem muitos interessados em que este "boom" se neutralize!
Nós criadores, não devemos permitir que o excelente ambiente no qual vive o gir nos dias de hoje seja prejudicado.

Há mais de 30 anos atrás, no final da década de 60 assisti ao meu saudoso avô mandar para o matadouro um touro gir, o Laranjo, que já servia há algum tempo em sua fazenda produzindo um gado rústico, pesado e produtivo, trocando-o por um holandês que, apesar de produzir animais mais leiteiros, diminuiu em muito a rusticidade do rebanho e aumentou os custos da produção.
Naquela época, um meu tio avô que criava gir na região de Pitangui - MG, mais precisamente na cidade de Leandro Ferreira, era tido como um retrógrado por toda a família porque insistia na criação de um gado que somente tinha um "tipo bonito", mas que era um gado ultrapassado.

Hoje, colhendo os frutos do trabalho de selecionadores de genética, alguns há mais de meio século, o gir reencontra a sua vocação no Brasil: Produzir animais para a produção de leite nos trópicos e também manter a aptidão para a produção de carne - isto mesmo - ao pequeno produtor interessa ter animais leiteiros que possuam uma carcaça produtiva quando do momento do descarte.

Não é raro encontrar-se o absurdo de ver-se touros nelore servindo vacas leiteiras, buscando a produção de bezerros com precocidade para o crescimento, enquanto as mães sustentam a atividade leiteira. Ocorre que o criador não consegue repor o rebanho leiteiro e gasta somas elevadas para a aquisição de outras vacas. Temos que trabalhar para disseminar novamente a introdução de touros gir nos rebanhos leiteiros e julgo que esta é a saída para o baixo preço praticado ainda nas vendas de tourinhos gir.

Fala-se muito em produções leiteiras fantasiosas, obtidas às custas de um manejo extremamente caro e com técnicas discutíveis. Contudo, estas produções elevadas não existiriam se a genética não estivesse aprimorada. Aos que criticam as produções elevadas, sugiro tentar produzir leite com um animal sem aptidão leiteira: gasta-se fortunas com concentrados e substâncias lactogênicas e não se consegue "tirar água de pedra".

Acredito na genética que produz acima de 10.000 kg de leite, realmente com custos mais elevados, para produzir animais que forneçam 5000 kg em condições de manejo barato, ou seja, em regime de pasto.

Tenho certeza de que o trabalho até hoje feito no Gir não está ameaçado, como têm apregoado muitos. Vamos ter um 2010 muito favorável ao Gir. É só esperar a poeira assentar.

Modestamente, permito-me parabenizar ao José Mário pelo conteúdo da entrevista e ao Rosimar pelo trabalho em prol da raça. Vamos em frente... Precisamos de otimistas com os "pés no chão"!


Luiz Carlos Rocha Macedo
Gir Santa Cruz
Santa Bárbara do Monte Verde - MG

2 comentários:

Ivan Luz Ledic disse...

Gostaria de parabenizar o Luiz Carlos por tão lúcidas colocações. Nunca esquecer que animais acima de 7.000 representam tão somente 1% das lactações de Gir. Minha única preocupação é se valorizar tanto somente animais com esse potencial máximo de produção e esquecer-se dos outros 99% que tb podem ter esse mesmo potencial e que não foram cotejados nos rebanhos que não fazem uso dessas "substâncias
lactogênicas" e que repetirão suas produções em qualquer propriedade - o ideal seria se trabalhar com desvios dentro do rebanho ou com o Valor Genético das vacas.
Qto aos preços, apesar do "boom", a realidade para mim é venda de animais 'dentro da porteira', ao preço de R$3.500,00 a R$7.000,00, que remunera muito bem os criadores de Gir de capim - com esses valores já se agrega aos lucros o mesmo que com a venda de leite......

Estância do Gir disse...

Prezado Ivan,

Muitas vezes quando as ideias
não ficam muito claras para os
leitores do blog,nada melhor
que os números.
É importante que quando se fala
em gir leiteiro,imaginarmos um
plantel com aptidão leiteira, e
não um ou dois indivíduos com
lactações extraordinárias e com
preços aviltantes.
Se na raça gir somente 1% atinge
lactações acima de 7000 Kg,qual
será o percentual em relação ao plantel leiteiro do Brasil?
Outra coisa que me pergunto, é
se quem compra um embrião ou um
animal por um alto valor é para
ampliar a base genética do seu
rebanho ou produzir embriões para
terceiros?
Há certos leilões onde o vendedor
mais parece um intermediário de
certos criadores do que um criador
propriamente dito.
O verdadeiro criador de gir tem a
sua marca ou série alfabética de
tal forma que cada plantel tem a
imagem e semelhança do criador.
Com relação aos preços praticados
pelo mercado concordo com o Ivan
que se a media fosse de 5 mil por
animal seria um bom negócio.
Sugiro a leitura do Inventário do
Gir Nacional escrito no blog,pois
é um bom parâmetro.

Um abraço ao Dr.Ivan e ao Rosimar