1 de fev. de 2009

Artigo: A Questão da Raça X Seleção



No site da Lagoa da Serra estão disponíveis 5 vídeos sobre a raça Holandesa, produção de leite e manejo de propriedades.


São vídeos muito bons, extremamente pedagógicos para quem produz leite e seleciona bovinos.

A Holanda não é o Brasil, e o que é bom na Holanda não é necessariamente bom para nós, e vice-verso.

Entretanto, os "meios" adotados (naquele país) para selecionar e otimizar a produção de leite, guardadas as devidas diferenças e recursos existentes (na Holanda e nas inúmeras regiões do Brasil) podem nos mostrar o que deve ser feito para obter em um menor prazo ganhos na seleção do Gir para leite, para carne ou para ambos.
Destaque para o programa In Sire (raça Holandesa na Holanda) lançado esse ano - um programa de marcadores genéticos (ver vídeo 2).

Segundo o vídeo, em 2003 eram conhecidos 3 marcadores genéticos em 150 mil existentes no DNA, hoje as análises mostram 60 mil marcadores (mínimo para garantir confiabilidade e bons resultados) e os analistas já reconhecem 100 mil marcadores (na raça Holandesa - isso em apenas 5 anos).

Com os marcadores o programa de seleção de touros e mães de touros que antes levava 10 anos ou mais foi reduzido para 5 anos com maior acurácia e menor custo. (veja o vídeo 2).
Segundo o vídeo, na Holanda são hoje 22 mil fazendas, um rebanho de 1,5 milhões, uma produção de 18 bilhões de litros anos (no Brasil são 26 bilhões de litros) e 85% do rebanho é registrado em ate 36 horas após o nascimento e 80% do rebanho tem controle leiteiro.

Essa informação nos leva a pensar, que o conceito de raça no futuro observará um novo paradigma.

- para fins comerciais (produção de leite ou carne), o pecuarista selecionará os reprodutores (machos e fêmeas) com base em perfis genéticos (mapas genéticos). Ele terá como avaliar um bezerro recém nascido (ou quem sabe até um embrião) com relação ao seu potencial para produção de leite e/ou carne e potencial de transmissão dessas características;

- os índices de confiabilidade serão bem mais altos, a importância dos descendentes será minima pois cada animal tera sua capacidade genética visivel (valor do indivíduo), inlcusive o que trasnsmite a sua descendência;

- a economia será maior com o descarte de animais menos produtivos precocemente, minimizando investimentos na recria;

Assim, animais cruzados (compostos) poderão ter tanto valor genético quanto animais registrados (reconhecidos como raça pura). E mais importante que a denominação PO, POOC, etc será a denominação do perfil genético.

Outro vídeo interessante é o de número 5. Que mostra uma propriedade com animais espetaculares - produção vitalícia em quantidade e longevidade.

Interessante observar o depoimento do proprietário dizendo que sua seleção não objetiva animais de pista (exposição), pois o "tipo" que ele na experiência comprovou como superior para alcançar as produtividades que tem é incompatível com o "tipo" selecionado para pista!

O que o Gir tem a ver com isso?

1- mostra o "caminho" moderno para selecionar - massificar a coleta de informações - registro e controle leiteiro;

2 - consolidar toda essa informação, fazer os estudos necessários e disponibilizar os resultados para os selecionadores e produtores;

3 - casar os estudos dessa base de dados com pesquisas científicas de genética - marcadores moleculares e outras e

4 - saber diferenciar os dados obtidos - sua origem: que vai desde o produtor tecnificado em freestall em regime empresarial até o produtor de leite a pasto orgânico em regime de agricultura/pecuária familiar. Afinal o Brasil é um país de contrastes e inúmeras possibilidades enquanto em outros lugares existe uma homogeneidade - diferentes genéticas para diferentes modelos de exploração.

Dessa forma, é razoável imaginar que o "padrão" das diversas raças venha a modernizar-se consolidando-se novos "tipos", bem como, o conceito de "raça" venha a ser substituído por "mérito genético" ou "mapeamento genético".

Os puristas e tradicionalistas que nesse futuro aparentemente não teriam espaço, pessoalmente acredito que em pequeno numero terão um papel importante como "bancos" de variedadibilidade genética (nunca se sabe quando um determinado gen e/ou conjunto de gens possa vir a ser necessário...). Prova disso são os repositórios de raças autóctones que hoje existem na Europa, EUA, Brasil mesmo e outros países.

Pessoalmente, como eu nasci no século passado e cresci admirando as raças tais como elas existiam na era dos "herd books", onde a maior parte dos cruzamentos seletivos partia da experiência empírica e do "feeling" dos criadores, onde valia o "olhômetro" do selecionador, e o estudo de genalogias, sinto um certo "desconforto" com esses novos rumos - vai ser difícil escolher entre aquele animal que lhe "enche" os olhos, lhe agrada e dar preferência aquele que é "feio" mas apresenta um mapa genético superior ou mais adequado aos propósitos desejados.

As razões acima talvez justifiquem a "importação de genética" Gir da Índia. Aparentemente existe uma superioridade do nosso Gir, mas isso acontece porque aqui o Gir encontrou melhores condições para expressar o seu potencial produtivo, e foi selecionado com uma "pressão" muito maior que a existente na Índia.

Entretanto o "pool" genético que veio para o Brasil é relativamente pequeno - todos os animais descendem de alguns poucos importados (e escolhidos na época segundo preferências daquela época).

Talvez os animais Gir Indianos atualmente sejam visualmente e ate mesmo produtivamente inferiores aos animais Brasileiros, mas, geneticamente podem possuir "outros" gens ou combinações de gens que uma vez cruzados com nosso animais venham a incrementar a raça. Ou encontrando aqui condições superiores de alimentação e manejo venham a expressar todo o seu potencial produtivo.

Se hoje o Brasil possuísse uma tecnologia genética similar ao In Sire (marcadores genéticos) para a raça Gir seria mais fácil julgar se a genética Gir indiana é importante ou não.

Sten Johnsson
Rio de Janeiro


3 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado Sten,

Suas cosntribuições são importantes. Continue participando de Girbrasil.

Rosimar Silva
Girbrasil
Goiânia/GO

Anônimo disse...

Abordagem muito interessante, com consistência e quebrando velhos paradigmas, visando realmente atingir uma pecuária moderna utilizando de ferramentas disponíveis para identificar animais superiores objeto de seleção. Parabéns e que outros se sensibilizem com o que foi dito, sendo que ainda acredito que o "olho" tb é uma ferramenta auxiliar na hora de tomada de decisões entre animais selecionados para discernir aqueles que melhor se adequarem ao sistema de produção

Gir das Paineiras disse...

Parabéns Sten pelo ótimo texto, não é de hoje que as suas contribuições e experiencias são muito importantes para qualquer criador, sempre com um olhar visando produção e uso das mais novas tecnologias, mas sem esquecer das qualidades raciais de cada raça. Posso dizer que sou um fã das suas colocações, sempre muito boas.

Parabéns mais uma vez.

Um grande abraço

Zé Eduardo
Gir das Paineiras
Itapetininga/SP