A crise atual afetará o mercado do Gir?

Rosimar Silva

Girbrasil

Goiânia (GO)

O mercado de remates do Gir leiteiro é constituído por médios e grandes investidores da pecuária nacional. Os animais consagrados dos criatórios também consagrados estão com alto valor agregado, e poucos criadores disputam esses produtos nos leilões com transmissão ao vivo pela televisão, quase sempre cercado de muita performance publicitária.

A reflexão que trago agora é se neste momento de crise na economia mundial, com a desvalorização das bolsas, não irá afetar o crescente mercado do Gir.

Explico o motivo: quem compra bem; quem compra caro no Gir leiteiro não é o produtor e selecionador que vive do seu gado lá na fazenda. Quem compra, quem investe é o criador/empresário urbano, comercial, industrial, ou prestador de serviços nos grandes centros. Esse empresário que não está imune à crise; que, na sua grande maioria, também é um investidor no mercado de ações e está com o coração na mão vendo seu dinheiro derreter nas bolsas.

Será que esse empresário terá cabeça para planejar a compra de uma prenhez de alto valor agregado neste momento de aflição? Pelo que sinto no comportamento do mercado financeiro é que está todo mundo tomando metidas de efeito a curto prazo. Ninguém está preocupado com o amanhã, com o ano que vem, com os produtos que ainda vão “nascer”, crescer e “dar” lucro. Pelo visto o negócio é agir cedo para perder menos à tarde.

Diante disso, os leilões que estão programadas para este mês poderão, ou não sofrer uma redução das médias esperados em função da crise? Ontem, dia 9, os noticiários da manhã indicavam uma tranqüilidade no mercado, mas ao longo do dia, as bolsas no mundo inteiro despencaram e foi uma correria, um desespero e, segundo Mirian Leitão, comentarista econômica da Rede Globo, 4 trihões de dólares já se perderam mundo a fora. Eram valores virtuais que simplesmente viraram pó. Ninguém pega mais. Uma maluquice.

Eu, como leigo, tenho dificuldades para entender essa lógica do mercado financeiro mundial. Os economistas carniceiros de plantão, que adoram fazer previsões negativas do mercado, dizem que todos os setores da economia serão afetados pela crise. Alguns mais, outros menos. Mas ninguém ficará sem sofrer alguns arranhões – eu já estou esfolado.

E o mercado do Gir leiteiro? Será afetado? Os grandes empresários investidores na atividade vão manter o ritmo de aporte de recursos na aquisição de genética de ponta como opção de um bom negócio? Essa, sem dúvida, é a grande pergunta do momento. Quem vai vender este mês não quer nem pensar nessa resposta. Mesmo porque esses criadores quando prepararam seus leilões não tinham a menor suspeita de que haveria uma crise apontada para o mercado financeiro. Agora é esperar pra ver. Será um teste para o Gir leiteiro.

Saberemos então se o negócio das grandes compras do Gir leiteiro está ou não inserido na grande economia de mercado.

Tem, evidentemente, a outra hipótese, que é o negócio de comprar genética de ponta como opção de proteção de prejuízos futuros. Ou seja, o investidor vendo as bolsas caindo ladeira a baixo, de forma desenfreada, pode querer sair desse turbilhão especulativo e procurar proteção em negócios firmes, com previsão de lucro a longo prazo. Quem pode esperar e acredita no mercado de Gir, na evolução e no desenvolvimento da raça Gir, pode fazer com que o mercado também acredite nessa hipótese e fica tudo resolvido.

Ver a coisa por esse lado é bem melhor. Passa até o frio na barriga. Tomara que o mercado pense assim. Agora, querer racionalidade no mercado é esperar demais. Como diz o ministro da Fazenda, o negócio é evitar “o comportamento de manada”, assunto que todos nós conhecemos muito bem.