Prezado Zé Alfredo e outros companheiros criadores,
Muito respeito suas opiniões, porém venho aqui tentar discordar um pouquinho de algumas.
Vou colocar algumas passagens com alguns adendos para o texto muito bem escrito pelo José Alfredo Barreto. Em alguns momentos, até o que escrevi aqui estão no texto dele posteriormente.
Para se atingir resultados econômicos desejados, o bom senso indica que o caminho há muito encontrado é o cruzamento entre o gir e o holandês: espécies distintas e, se oriundas de linhagens bem trabalhadas, com certeza se obterá resultados funcionais espetaculares, não só leite, mas carne também.
Demais disso, - complementando - se a heterose nada cria senão fazer ressaltar atributos funcionais, é de se concluir que quanto mais tipificadas e ou caracterizadas as duas espécies (gir/holandês), mais satisfatório há de ser o resultado.”
COMENTÁRIOS:
Tecnicamente sabemos que o holandês vai nos dar leite, persistência de lactação, melhoria reprodutiva e facilidade de ordenha principalmente. O gir vai contribuir com rusticidade (neste quesito entram vários fatores de adaptabilidade aos trópicos), e sim, aumento de sólidos no leite.
Quando o senhor diz que são espécies diferentes, é um engano, pois se fossem diferentes, os produtos seriam estéreis, na verdade são da mesma espécie, porém de sub-espécies diferentes, sendo o taurino: Bos taurus taurus e o Zebuíno: Bos taurus indicus.
Quanto a questão da heterose, acima afirmado, sou da linha de se acasalar uma genética de alta produtividade, com animais muito tipificados quanto a produção de leite do holandês, com animais de genética conhecidamente de boa produção do gir. Lembrando que, os animais muito caracterizados do holandês (vejamos a genética canadense), não tem uma boa tipificação de leite igual ao holandês americano. Uma vez que sabemos que os canadenses priorizam na maioria das vezes a beleza e padrão racial e os americanos a alta produtividade aliada a tipificação leiteira.
2- “DEPARA-SE COM O SEGUINTE QUADRO. A consangüinidade não compraz com interesses imediatos. Apura, geneticamente, tanto as qualidades quanto os defeitos, permitindo, com o seu emprego, a obtenção de linhagens; raçadores e a criação uma diversidade genética.”
Vinha escrevendo tudo coerente, quando se chega ao ponto e escreve que a ‘consangüinidade permite a criação de uma diversidade genética’. Oras bolas, se tem consangüinidade, diminui a diversidade genética. Isso é óbvio.
3- “Para se fazer uma pecuária produtiva, destinada ao pleno abastecimento, seja de leite ou de carne, não se pode abdicar da Raça Gyr e ainda, equivocadamente supor que essa raça poderá substituir outras ou ser substituída. Mas através de um gir conformado à realidade e não um gir que existe apenas em nossa imaginação, o que conseqüentemente se faz uma exarcebada exigência de seu desempenho, exigindo dele muitíssimo além de sua potencialidade. É que, por ser o Gyr dentre os zebuínos, aquele que mais dá leite, equivocadamente somos levados a situá-lo como raça leiteira, sendo que, na verdade, o Gyr é uma raça boa de leite.”
COMENTARIOS:
No 1º parágrafo, discordo do senhor no quesito leite e carne. Gir é pra leite e ponto final, mesmo o padrão, o padrão ta começando os testes de progênie, e vai vir pra leite e com raça! O gir poderá sim substituir outras raças no futuro, talvez nos meus netos, bisnetos ou mais pra frente, é óbvio. O holandês, o jersey, tem mais de 400 anos de seleção, o Gir tem nem 1 século ainda (observando quesitos produtivos). Temos muitos anos atrás, mas que com as tecnologias, vamos correr por fora, mas vamos chegar a um patamar muito alto.
No 2º parágrafo, diz que estamos exigindo muito além da potencialidade, estive tentando achar aqui o trabalho apresentado no 8th International Workshop on the Biology of Lactation im Farm Animals, feito pelo competente Prof. João Negrão, mostrando toda bomba hormonal na hora da ordenha, e parâmetros, mostrando que o GIR tem sim potencial, porém falta a seleção, esse trabalho é muito bom!
O Gir sim é uma raça leiteira, raça leiteira carro-chefe do Zebu. Vamos selecionar!
O 2º texto o senhor trouxe outras afirmativas, que me permita discordar de algumas (como o mundo ia ser chato se todo mundo pensasse igual, né?)
Quando o Senhor fala que seleção só se faz com endogamia, endogamia é perigoso demais, uma vez que segundo Faria (2002)* – “ Para viabilizar os programas de melhoramento genético, torna-se necessário conhecer os diferentes fatores que potencialmente interferem no processo seletivo. O tamanho efetivo da população é um dos que chamam a atenção, pois seu decréscimo pode estar associado ao aumento do nível de endogamia. Isso ocorre principalmente em razão do uso intensivo de alguns poucos touros melhoradores nos rebanhos e do aumento observado da variância do número de progênies por reprodutor em gerações sucessivas. Endogamia alta implica redução da variabilidade genética, o que afeta as características relacionadas à reprodução e ao valor adaptativo dos animais, e a expectativa de se obter resposta futura à seleção.”
*FARIA, F.J.C. Estrutura genética das populações zebuínas brasileiras registradas. 2002.
Seleção de uma raça deve-se utilizar a maior variabilidade possíveis de touros para conseguir uma variabilidade genética e melhores resultados, ou seja, sim, heterose dentro de uma própria raça, uma vez que as linhagens (aí a importância da endogamia feita por alguns criadores, um exemplo o gado EVA iniciado por seu estimado sogro e que hoje o senhor dá continuidade).
A endogamia é pode ser usada até 10%, acima disso, começa a aparecer efeitos deletérios pra raça (num trabalho de Cunha e colaboradores, 2006), chegaram à conclusão, que é preocupante esse índice para características de herdabilidade baixa e média, na raça nelore.
Ou seja, fazendo endogamia, vamos ter (como o senhor mesmo disse), aparecimento de características boas e ruins, ou seja, em algum ponto importante para pecuária (por exemplo, reprodução), pode ser deletério. Entendem?
Vejam este trabalho, e vão entender melhor:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-09352006000300015&lng=&nrm=iso&tlng=
Apesar destes poucos pontos em que discordo do senhor, o texto está muito bom e é um importante documento para a história da raça Gir. Um grande abraço ao senhor e aos demais companheiros criadores. E ao Rosimar Silva que propicia este maravilhoso espaço para divulgar nossas idéias e aprofundar o debate sobre seleção e melhoramento da raça Gir no Brasil.
Roberto Ximenes Bolsanello
Médico Veterinário – CRMV-ES 700
Especialista em Zootecnia com ênfase
Mestre
Inspetor da Associação Brasileira dos Criadores de Gado Jersey – Núcleo ES
Criador e Selecionador de Gado GIR em Guarapari (ES)
Nota do Editor:______________________________________________________
6 comentários:
Roberto Bolsanello,
Meu abraço. Quanto ao emprego da endogamia , por afirmado um aumento da variabilidade genética, talvez devesse eu ter acrescentado, uma endogamia racional. Não me passou pela cabeça, dado a experiência que tenho, uma consangüinidade, em linha reta, despreocupada com a sua intensidade. Quanto ao mais observado, talvez por ser um assunto até certo ponto polêmico, me restrigi ao que pude sob pena de envolver, com certeza, com ou em pontos conflitantes dado a minha formação que é apenas jurídica. Mas digo a você; se eu pudesse, eu usaria apenas um touro para cada cinco vacas e ia alternando os acasalamentos utilizando os resultados provenientes daqueles. Quanto ao mais, com referência a respeito da herdabilidade, vamos deixar pra lá, porquanto se trata de dados. Também não advogo que o Gyr nunca vá evoluir no sentido leite. Esta não foi nossa proposição. O que busquei dizer é que, na realidade, hoje em nossa pecuária, o girolando é imbatível e é ele, em efeito o transmissor de leite e que o produto oriundo de heterose, em produtividade, por ser muitíssimo variável, não impõe credibilidade; isto porque, sabe-se, os genes são qualitativos. Outra questão: posso até estar enganado: mas o Gyr é uma espécie oriunda do "Bos Indicus" e o Holandez é uma espécie ou raça oriunda do "Bos Taurus. Um abração e muito obrigado a você e também ao Rosimar.
José Alfredo Barreto, de Sete Lagoas (MG)
Caro amigo José Alfredo,
apesar de ter uma formação jurídica, sua experiência com gado gir é fascinante e muito maior que qualquer técnico.
Quanto a questão da endogamia..eu continuo não gostando...sou da turmo do acasalamento direcionado e faço do jeito que o senhor disse, faço familias e vou alternando, fiz muito no jersey também no inicio.
Quanto a questão de espécie, subspecie, isso complica a cabeça de muita gente mesmo, vou tentar explicar:
Bos taurus indicus - Bos é genero, taurus é espécie, indicus é sub-espécie, e gir é raça, e variedade pode ser padrão ou mocha...zoologicamente no caso do gir seria esse... genero, espécie, sub-espécie, raça e variedade.
No mais meus sinceros votos de amizade, um grande abraço,
Roberto X. Bolsanello
Caro Dr. Roberto Bolsanello,
Obrigado pelas referências. Como deixei entrever: sou um curioso "chato". Como diz o nordestino: "metido a besta". Mas me esforço, e muito. Um dia chego lá. Quanto aos acasalamentos, você sendo bem mais jovem do que eu, poderia se esforçar e fazer uma concessão e "aprofundar" mais. Acho que, no fundo, no fundo mesmo, você pratica uma endogamia - se assim podemos dizer - bem "light" (laite - estou traduzindo porque não sei se o meu inglês está correto). Digo mais: se os leiteiros fizessem assim, admito que o caminho encurtaria, e muito. Na década de 1940, tentaram fazer o gir leiteiro lá em Uberaba na Fazenda Experimental. Numa outra oportunidade encaminharei para você publicações da época.
Um abraço,
Jose Alfredo.
Companheiro José Alfredo,
por favor, Dr. não, Dr. pra mim é quem tem doutorado, me chame como quiser sem o Dr. na frente, não me sinto bem, e além do mais somos companheiros criadores dessa fascinante raça.
Fico feliz em ter colaborado e esclarecido alguma coisinha nesta sua vasta experiência, que muito quero aprender ainda, afinal só tenho 5 anos como criador de GIR.
O senhor deve achar que crio leiteiro, não não, sou criador de Gir, e só, faço o chamado Gir no meio também por questões comerciais, uma vez que minha propriedade é pequena e precisa se manter, e a venda de tourinhos nos proporciona isso.
Tenho muito sim o que aprender, e aprender com mestres do GIr como o senhor e outros amigos, é uma honra.
Inclusive preciso trocar uma idéia de um acasalmento que preciso fazer, preciso refinar uns animais (padrão), e penso em jogar EVA, andei inclusive cotando com o Freddy, Orlei e outros amigos, porém os semêns que se acha no mercado não tem nota, e pra mim inseminar de um touro e falar que é de outro não é válido. Gostaria de saber se teria outra opção de semên, uma vez que não tenho condições de colocar tourinhos em minha propriedade, que como disse é pequena.
Fico no aguardo, de quem pode ter certeza, muito te admira, apesar das calorosas discussões, acho que amizade é isso aí, discutir com respeito.
Um forte abraço do jovem, porém entusiasta criador,
Roberto Ximenes Bolsanello
Guarapari-ES
Roberto. Suponho que o touro que vai enrtar agora no meu gado possa lhe dar alguma contribuição. Dele vou extrair sêmen. Já tenho na Caraíbas prova disso. É que, antes de colocar um touro no gado, quando posso , experimento o animal e, assim, tenho dele umas oito crias com uma média excelente. Me enganei com você: supunha criador do leiteiro.. A referencia que você fez, quanto ao mercado, já tenho uma medida para avaliar seus depoimentos.
Um abraço.
José Alfredo.
Fico agradecido qto ao tourinho..muito me agrada...
sim sou criador de gir de verdade...fico curioso qto a essa medida avaliadora dos meus depoimentos..heheheh
Um forte abraço,
Bolsanello
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