18 de abr. de 2008

Marcador Molecular: uma nova ferramenta de Seleção e Manejo


A principal estrela do 3º Encontro de Criadores de Gir, domingo, dia 20, em Bela Vista, será Henry Berger – Médico Veterinário, formado pela Universidade de São Paulo, com Mestrado e Doutorado em Reprodução Animal pela mesma instituição e MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, que falará sobre Marcadores Moleculares, mais precisamente sobre o perfil Igenity, um produto da empresa Merial que avalia do DNA de bovinos por meio dos marcadores moleculares e emite um escore. Atualmente Henry Berger ocupa o cargo de Gerente IGENITY para a América Latina.

Antes da palestra, uma pequena “colher de chá” aos leitores de Girbrasil com esta entrevista exclusiva com Henry Berger. Aproveitem para entender melhor a palestra do dia 20.




Por
Rosimar Silva


Girbrasil – Quando a Merial iniciou a pesquisa de validação dos marcadores Moleculares?
Henry Berger – Iniciamos no final de 2005, quando, de posse de uma grande quantidade de marcadores descobertos e validados para gado taurino, precisávamos checar tecnicamente se estes marcadores (ou outros) também atuavam da mesma forma e nas mesmas características em gado zebu. Vale explicar o quê é a validação: de forma sintética, é aferir se determinados marcadores ou genes, supostamente envolvidos com determinadas características produtivas, realmente estão envolvidos com as mesmas e são úteis para seleção e/ou manejo em um determinado grupo genético. Em nossas avaliações, vimos que os genes para taurinos envolvidos com características produtivas são distintos dos genes de zebuínos, e em muitos casos atuam em direções também distintas.

Girbrasil – Os marcadores Moleculares dispensam os testes de progênie para provar um touro Gir para produção de leite?
Henry Berger – Absolutamente não; os marcadores simplesmente permitem identificar, em tenra idade, qual é o potencial genético que um determinado animal tem para produção de leite, gordura ou proteína. E esta informação é de crucial e fundamental importância, pois serve para tomarem-se decisões muito antecipadas sobre a vida futura deste animal, como, por exemplo, se valerá a pena investir no mesmo ou não, se serve para a reposição ou não. Uma vez selecionados os animais com base em seu potencial, há de se prová-los, ou seja, há de se enviá-los para provas de progênie e avaliações quantitativas, pois produção de leite, gordura e proteína, além de serem características poligênicas, são também influenciadas pelo ambiente; e precisamos ter certeza de que estes efeitos serão captados de forma distinta em animais de potencial semelhante.

Girbrasil – O quê é o perfil Igenity?
Henry Berger – É um conjunto de características produtivas de interesse econômico reunidas em um painel, chamado painel ou perfil IGENITY, que avalia, através de simples compreensão, o potencial genético de um animal (ou grupo de animais), por meio de escores que variam de 1 a 10. O animal de escore 1 representa aquele de pior combinação genética (para os marcadores conhecidos e validados) para a característica em questão e o animal 10 aquele de melhor combinação.

Girbrasil – Qual a confiabilidade do perfil Igenity?
Henry Berger – Genes são genes; uma vez conhecidos e validados os marcadores para as características produtivas, a confiabilidade do teste IGENITY para os escores emitidos é total. Vale lembrar que o termo confiabilidade ou acurácia aplica-se às avaliações quantitativas, uma vez que são avaliações estatísticas que mensuram o mérito genético de um determinado touro em um determinado número de filhas/rebanhos avaliados; quanto maior o número de filhas avaliadas, e maior a acuidade de correções dos fatores ambientais, mais acurado (ou confiável) é a PTA ou DEP. É por isso que as DEPs e PTAs variam ao longo do tempo e de animal para animal.

Girbrasil - Qual foi a participação da Embrapa Gado de Leite na montagem do Perfil Igenity?
Henry Berger – A Embrapa Gado de Leite, há muitos anos, é responsável pelas avaliações do Gir Leiteiro e Girolando, através do PNMGL (Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro), em conjunto com a ABCGIL. De forma visionária e com enorme visão de futuro, o saudoso colega Dr. Mário Martinez, já há muito coletava DNA de vacas participantes do programa e armazenava este DNA para avaliações futuras. Desta forma, de posse de material biológico para avaliação do DNA, dados fenotípicos (produção) de vacas sob controle leiteiro do programa e dados de mérito genético e arquivos de pedigree destes animais, foi possível estabelecer-se parceira com esta instituição e realizarem-se os processos de validação em Gir Leiteiro e Mestiços Holandês/Gir (Girolando).

Girbrasil – O escore Igenity substituirá os PTA´as dos sumários de touros?
Henry Berger – De forma nenhuma; será apenas um dado complementar, visto que avaliamos apenas algumas características produtivas, e as PTAs são mais amplas, avaliando mais características, como conformação, etc. Ademais, as PTAs captam outros efeitos em seus modelos e podem ser fundamentais na diferenciação de touros de escores semelhantes. O produtor poderá olhar para ambos dados sob dois prismas:

  1. Poderá eleger, através das PTAs, os touros que mais lhe agrada para seus critérios de seleção e então decidir, de forma refinada, entre um ou outro pelos escores IGENITY ou;
  2. Eleger, pelos escores IGENITY, os touros que lhe interessa para seus objetivos e refinar sua busca pelas PTAs em touros de avaliações similares.

Devo ressaltar, ainda, que o produtor não pode se esquecer de outros critérios relevantes à seleção, como conformação, nível de endogamia, etc.

Girbrasil – Cada animal carrega consigo, desde o dia em que nasce, sua herança genética. Com o Igenity será possível de saber se esse animal será ou não leiteiro?
Henry Berger – Com IGENITY poderá saber-se o potencial genético deste animal para produção de leite, gordura e proteína, através dos genes que este animal carrega. Se será ou não leiteiro, há outras implicações envolvidas, como efeitos ambientais, direção e seleção de determinadas linhagens, etc. É para isso que servem as provas de progênie e PTAs; IGENITY serve como um indispensável “filtro” ou “triagem” para a definição de quais animais merecem ser provados ou não e no processo de aumento de freqüência dos genes favoráveis. Também é uma ferramenta poderosíssima no direcionamento da reposição de novilhas, pois podemos elevar, de forma inimaginavelmente rápida, as freqüências destes genes favoráveis nos rebanhos, Não podemos nos esquecer de que um animal é fruto de 50% de seu pai e 50% de sua mãe. Assim, IGENITY fornece os subsídios para definirem-se quais novilhas devem e quais não devem entrar na reposição.

Girbrasil – O Igenity é uma análise precisa?
Henry Berger – Os testes laboratoriais de análise do DNA IGENITY são totalmente precisos.

Girbrasil – Existem diferenças entre o perfil Igenity do “Gir Leiteiro” e do “Gir padrão”?
Henry Berger – O painel IGENITY foi validado em uma população de pesquisa baseada exclusivamente em Gir Leiteiro, sob controle da Embrapa Gado de Leite e ABCGIL, e com dados vinculados a estas instituições. Sob esta óptica, não posso dizer se há diferenças ou não entre painéis do “Gir Leiteiro” e do “Gir Padrão”, pois não avaliamos populações de Gir Padrão.

Girbrasil – Marcadores moleculares para leite presentes no Gir Padrão podem não estar associados a essa característica econômica?
Henry Berger – A “distância genética” entre o Gir Leiteiro e o Gir Padrão é mínima, uma vez que são linhagens variantes dentro de uma mesma raça; assim sendo, os genes e marcadores encontrados numa raça estão presentes na outra e vice-versa. Portanto, é de se esperar e supor que estes genes e marcadores atuem no mesmo sentido. Entretanto, como os critérios de seleção utilizados por ambas apresentam variações, provavelmente a expressão fenotípica (produção) dos mesmos genes/marcadores deverá divergir entre ambas. Como não dispomos de dados de validação em Gir Padrão, podemos imaginar que os marcadores IGENITY podem ser extremamente úteis para a seleção na raça, mas não podemos utilizá-los para “comprovar” o mérito genético para produção da mesma. Para esta finalidade, temos as provas de progênie que poderão responder perfeitamente a esta questão e indicar um touro A ou B como “provados”, ou não, para produção leiteira.



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