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9 de fev. de 2009
Artigo: Gir Leiteiro, raça e recurso genético
Por
João Cruz Reis Filho
Dando continuidade às discussões iniciadas pelo Dr. Ivan Ledic, gostaria de apresentar um conceito de raça que consta em documentos da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). Em livre tradução, “raça é tanto um grupo subespecífico de animais domésticos com características externas definíveis e identificáveis que permita ser separado de outros grupos similarmente definidos dentro de uma mesma espécie por avaliação visual, ou um grupo para o qual a separação geográfica e/ou cultural de grupos fenotipicamente similares conduziu à aceitação de sua identidade em separado”.
Mas o mais interessante vem a seguir “as raças têm sido desenvolvidas de acordo com diferenças culturais e geográficas, e para atender as necessidades humanas para alimentação e agricultura. Neste caso, raça não é um termo técnico.”
Por fim, o documento conclui que “raça é mais frequentemente aceita como um termo cultural do que técnico”.
Mesmo concordando com as definições apresentadas pelo Dr. Ivan Ledic, esta longa introdução tem como objetivo reforçar a consideração levantada pelo Dr. Alvaro Restrepo, ou seja, creio que a conceituação de recurso genético nos conduz a uma reflexão mais profunda do que o Gir Leiteiro representa. Recurso sim, em todas suas conceituações lingüísticas, seja como alternativa, auxílio, remédio ou mesmo, patrimônio.
Sem dúvida o Gir Leiteiro representa um bem que dispomos para a pecuária leiteira tropical. E mais, uma alternativa aos modelos de produção predominantes no mundo, o “remédio” que auxilia a mudar esta lógica.
Na última conferência sobre comércio global e bem-estar animal, realizada em Bruxelas em janeiro deste ano, a União Européia sinalizou para incluir as regras de bem-estar animal como normas da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Independentemente do mérito desta proposição, que certamente está pautada muito mais em questões comerciais do que preocupações com os próprios animais, questiono como seria a produção leiteira nessa imensa faixa tropical – apenas com raças européias, em constante estresse térmico ou confortavelmente instaladas em estábulos climatizados com altos custos de produção? Ufa!
Temos o Programa Nacional de Melhoramento Genético do Gir Leiteiro (PNMGL), estabelecido há 24 anos.
Àqueles que porventura desconhecem o pioneirismo do PNMGL, na última semana do mês passado estive em Roma, representando o MAPA e compondo a delegação brasileira na 5ª Reunião do Grupo Técnico de Trabalho Intergovernamental sobre Recursos Zoogenéticos para Alimentação e Agricultura, da FAO.
Na oportunidade, recebi em primeira mão um documento com propostas de diretrizes para estabelecimento de programas de melhoramento genético para sistemas de produção com baixo e médio aporte de insumos. Felizmente, nosso país aparece como exceção dentre os países em desenvolvimento, por possuir atividades de melhoramento genético.
Refletindo sobre a colocação do Sr. Euclides Marques, creio que a busca de material genético na Índia por parte de brasileiros, mesmo sabendo que os níveis de produção por lá atualmente são inferiores aos nossos, justificar-se-á no longo prazo. A incorporação de variabilidade genética para ser “lapidada” em nosso processo de seleção, como já o foi, certamente será útil. Neste ponto, aproveito para fazer referência e parabenizar o artigo postado pelo Sr. Sten Johnsson (A questão da raça x seleção).
A título de informação esclareço que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estuda um plano de expansão dos controles leiteiros oficiais, o que certamente fortalecerá os programas de melhoramento genético e permitirá incrementar as pesquisas de associação de características de interesse econômico com genes ligados a marcadores moleculares.
Encerrando minha participação, lembro que a previsão do Banco Mundial de um imenso crescimento na demanda mundial de alimentos para 2030, em relação ao leite, implica em necessidade de crescimento do número de vacas ordenhadas e da produtividade das mesmas.
Apesar de sabermos que a maioria das explorações leiteiras no Brasil (e em toda faixa tropical) é conduzida com base em pastagens (como minha própria seleção), sinceramente muito me conforta saber que temos sim, dentro da raça Gir, vacas capazes de alcançarem produções expressivas, em níveis próximos das vacas Holandesas. Apesar da polêmica que isto possa suscitar, uma vez que para atingirem altas lactações as vacas Gir Leiteiro são submetidas a condições de manejos também diferenciadas, relembro o que disse acima – pelo menos temos uma alternativa! Isto significa que o Gir Leiteiro, recurso genético, atende e atenderá a necessidade de aumento na produção de alimentos, seja a pasto ou estabulado, seja puro ou em cruzamento, mas certamente proporcionando animais mais adequados às nossas condições, o que, comparativamente, resultará em menores custos de produção e mais competitividade.
João Cruz Reis Filho
- Engenheiro Agrônomo, Doutorando em Melhoramento Genético Animal/UFV
- Fiscal Federal Agropecuário – MAPA
- Selecionador de Gir Leiteiro na Fazenda Sumaúma
- (www.fazendasumauma.com.br)
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2 comentários:
Putz, arrebentou caro amigo Dr. João Cruz. Creio que a discussão sobre esse assunto gerou discussão e o mais importante, esclareceu muito coisa. O mais importante é que devemos nos orgulhar do Gir Leiteiro naturalizado brasileiro e do trabalho desenvolvido pelos Criadores, Técnicos, ABCGIL e EMBRAPA, com reconhecimento internacional, o que nos coloca de igual para igual com os países de 'primeiro mundo'. Um abraço
Estimado Dr. Cruz, muy interesantes sus comentarios y apreciaciones para contribuir al debate sobre el tema de raza, su significado y yo le agregaría, su proyección dinámica en el tiempo.
Me da gran satisfacción que comparta el enfoque de recurso genético para comprender a cabalidad, “que el Gyr Lechero representa un bien (un recurso genético) que disponemos para la ganadería lechera tropical…una alternativa a los modelos de producción predominantes en el mundo, el “remedio” que auxilia a cambiar esta lógica” (tomando y traduciendo sus palabras).
Estamos totalmente de acuerdo.
Tan solo yo le agregaría la parte dinámica: un recurso genético que ha evolucionado en el tiempo acorde a las necesidades circunstanciales del Mundo Tropical. No solo para reemplazar otros recursos genéticos, o razas estáticas, en cuanto a la producción eficiente de leche en el medio ambiente tropical hostil, sino acorde a las necesidades de los productores y de los consumidores del momento. Una cosa era la producción circunstancial en 1960 y otra es la producción circunstancial en el 2009. Con esto quiero enfatizar la necesidad de comprender un recurso genético como algo dinámico en el tiempo y circunstancia. Tomando sus palabras “un remedio”, pero… acorde a las necesidades en el tiempo.
Le agradecería mucho pasarme información sobre la reunión de la FAO en Roma sobre recursos Zoogenéticos a la cual usted asistió. Así mismo, sobre las directrices para el establecimiento de programas de mejoramiento genético para sistemas de producción con bajo y medio aporte de insumos. También me interesa el plan para la expansión de los controles lecheros oficiales del MAPA del Brasil.
Aprovecho para felicitarlo por su labor. Para mí resulta muy satisfactorio ver como, en su país, la genética animal aplicada progresa cada vez más gracias a jóvenes profesionales de alto nivel como usted.
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